Há tempos venho nutrindo o desejo de organizar e compartilhar arquivos coletados nos últimos anos. Gravações, produções, referências e experimentos que fiz e quero continuar a fazer.
Estou em processo de criação de um trabalho sonoro que tem me levado a revisitar todo meu arquivo que está agora sendo acrescido de novas gravações do ambiente que estou temporariamente vivendo: a beira de um rio. Muitas aves, macacos, grilhos, instigam meus ouvidos o tempo todo, além do som constante da água e vento.
Rio paraná
Como tudo nessa vida é passageiro, tenho registrado muitos momentos. Filmo, gravo sons, escrevo, nado, pesco, canto, caminho. Fiz um movimento em direção à minha criatividade que tava um pouco minada depois de 8 anos morando em São Paulo. Daqui a pouco a estrada volta a ser minha principal casa e a cidade grande a maior parada, então sinto que preciso deixar esses momentos especiais e nutritivos guardados onde eu posso visitar sempre que precisar me lembrar quem eu sou e de onde vim.
Por aqui, o som de viola caipira dita o toque das rádios e ainda se ouve muitas canções que falam da natureza, amor, coração partido e pinga. Claro que as músicas atuais também tocam, e muito, só que eu prefiro mergulhar nas modas antigas onde o interlocutor é o trabalhador e não o fazendeiro.
Pra onde eu olho vejo um pouco dela, Helena Meirelles, a violeira que completaria 100 anos ano passado. Conheci seu trabalho através de Tetê Espíndola, que fez dois shows em homenagem ao centenário e pude vivenciar um. Acho místico agora eu estar na beira do rio que ela nasceu, Rio Paraná. Pode ser mera coincidência mas que coincidência bonita. É muito prazeroso ver sentido nas coisas invisíveis. Ela e Tetê são conterrâneas que me inspiram constantemente. As vejo como rebeldes, punks, dentro de seus contextos e estéticas, que conseguiram modificar pra sempre a música sul matrogrossense.